Brasil é promessa, também no mercado de TI
A jornalista americana Sarah Lacy, de 34 anos, construiu sua carreira na última década ao acompanhar todos os passos da indústria de tecnologia americana, em especial a instalada no famoso Vale do Silício, na Califórnia (EUA) - onde estão, por exemplo, gigantes como Google e Apple e estrelas em ascensão como Twitter. Um dos focos do trabalho da jornalista foram as empresas do tipo start-up - pequenas e promissoras companhias que às vezes promovem saltos tecnológicos. Agora, a americana embuiu-se de uma nova missão: garimpar histórias de start-ups em nações em desenvolvimento, incluindo o Brasil. "O país está chamando a atenção do mundo", diz a jornalista. "Encontrei aqui muita gente interessante e ótimas histórias." As descobertas serão apresentadas em livro, a ser lançado nos EUA em agosto. A jornalista também vai contar suas conclusões no site TechCrunch, uma das principais referências da web na área de tecnologia da informação (TI), e na revista BusinessWeek, onde ela assina uma coluna com o sugestivo nome de Valley Girl. Confira a seguir a entrevista que Sarah concedeu a VEJA.com em sua passagem por São Paulo.
Por que vir ao Brasil em busca de empresas start-ups?
Eu faço a cobertura jornalística das start-ups há cerca de dez anos, sendo que a maioria delas tem sede no Vale do Silício. Cerca de 90% dessas companhias têm entre quatro e dez anos de vida e são as principais responsáveis pela mudança do jogo naquela região, pois possuem equipes muito criativas. Porém, em termos de negócio, a vida delas difere bastante da realidade das empresas cujo capital é de bilhões de dólares: muitas procuram investimentos, mas por um bom tempo os investidores ficaram traumatizados com o advento da "bolha da internet" e preferiram não apostar em pequenos negócios. Então, a coisa andava meio morna no Vale do Silício. Por outro lado, no mesmo período, alguns países viviam a estabilização de suas economias e a explosão da classe média: portanto, era preciso saber mais sobre mercados emergentes como China, Índia e Brasil. Saber como eles estavam fazendo esse trabalho. Há muitos fenômenos importantes acontecendo com empresas instaladas em outros países, e os consumidores têm acompanhado essas mutações.
Você chegou a pesquisar a cidade de Campinas (SP), considerada o "Vale do Silício brasileiro"?
Escutei algumas coisas a respeito, mas não cheguei a visitar a cidade.
Quantas start-ups existem no Brasil?
É difícil dizer com precisão, mas tenho certeza de que há centenas de start-ups no Brasil. Durante as minhas entrevistas, apurei que, no ano passado, pela primeira vez, o número de oportunidades de investimento superou o de empresas que buscavam recursos. Além disso, o número de pessoas começando um negócio em casa foi maior do que o de profissionais buscando emprego no mercado de TI. O país está chamando a atenção do mundo. O país receberá uma Copa do Mundo e uma Olimpíada e tudo isso também tem um efeito psicológico sobre o mercado, que se sente mais confiante. Eu não tenho números, mas muitas companhias estão crescendo no Brasil. E é por esse motivo que estou aqui (risos).
Como você escolheu as empresas que estarão no livro?
Esse foi um trabalho muito difícil. Analisei o perfil de empresas que surgiram no Vale do Silício nos anos 90, e isso serviu como uma lição. Então, fui pesquisar e visitar a China, Índia e Brasil, entre outros. Luanda, em Angola, por exemplo, tem recebido investidores e muito apoio do governo. Muitos dos países que visitei possuem grande densidade demográfica e incentivam parcerias. Cerca de duas ou três empresas chinesas e indianas devem ser utilizadas como exemplos em alguns capítulos do livro. Com relação ao Brasil, como tudo para mim é muito novo, ainda não sei quantas companhias devem ser citadas. Encontrei aqui muita gente interessante e ótimas histórias: é difícil escolher.
As redes sociais se tornaram nos últimos anos a grande atração da internet. Na sua opinião, elas vão se firmar, ou trata-se de modismo?
As redes sociais vão sobreviver, é claro, mas acho que poucas irão se transformar em grandes empresas. Nos últimos dez anos, muitas companhias do Vale do Silício cresceram por causa de "grandes ondas". E, com a onda da web 2.0, muitas vêm se destacando: é o caso do Facebook. É fácil encontrar empresas que têm feito dinheiro com ideias como essa. A tendência que, na minha opinião, é passageira são os games sociais - a despeito do sucesso de uma empresa como a Zynga (desenvolvedora do jogo FarmVille, com mais de 80 milhões de usuários ativos). Essas franquias podem até ganhar força, mas só são destaque quando estão aliadas ao Facebook, por exemplo, essa, sim, uma ferramenta capaz de organizar e conectar pessoas
Fonte: http://veja.abril.com.br/noticia/vida-digital/brasil-promessa-mercado-ti-sarah-lacy